sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Para que serve o Twitter, afinal?

Quando entrei no Twitter, minha primeira micromensagem foi assim:
"Ho ho! (como diria o Papai Noel) Acabo de entrar no tweeter. Tendo não mais que uma vaguíssima idéia sobre o que seja essa birosca."
E já vi inúmeros "primeiros tuítes" com conteúdo semelhante: "Meu Deus, o que estou fazendo aqui??"

Pois é. Para que serve o Twitter, afinal? Essa maçaroca de mensagens telegráficas sobre assuntos aleatórios?

O Twitter se molda ao usuário - Bom, em pouco tempo descobri para que ele serve para mim. Pois, na verdade, o Twitter é um sistema que vai se moldando ao usuário na medida em que ele o usa, adquirindo funções diferentes dependendo da pessoa. Por meio de quem a gente segue, e por meio dos tuítes a que damos atenção, a gente forma o perfil das mensagens que a gente recebe e vai "montando" uma maquininha com uma certas funções. Para mim, por exemplo, a principal função é uma drástica diversificação das fontes de notícias. Outras pessoas vão usar de outras formas. É um coringa.

Diversificação das fontes - Antes de aderir ao "microblog", eu lia basicamente dois ou três jornais por dia pela Internet e algumas poucas fontes de outros tipos. E isso - importante, agora! - na midia mainstream. Dizer que a gente deve procurar outras visões é bonito, mas o problema é que era excessivamente trabalhoso ir atrás de dezenas de sites com ângulos alternativos todo dia. Com o Twitter, não preciso mais fazer isso: eles vêm até mim. Com isso, multipliquei dramaticamente a variedade do que leio e, mais importante, posso receber coisas vindas de fontes absolutamente à margem do mainstream. O underground emerge.

Não faço isso apenas seguindo os tuítes dessas fontes. Grande parte delas vêm de amigos meus que tuítam por aí. É como normalmente as fontes alternativas são divulgadas: no boca-a-boca. Só que as redes sociais potencializam e multiplicam esse efeito. Sim, as redes sociais virtuais aumentam o espaço para as opiniões alternativas e diminuem a da visão majoritária. Pelo menos, para mentes críticas, que se abrem para isso (para mentes fechadas, a Internet pode servir como uma grande caixa de ressonância conservadora).

Promoção do alternativo e do "não-institucional" - Também diminuiu muito minha escravidão da grande mídia com grandes apartatos de divulgação. A internet com conteúdo feito pelo usuário dá visibilidade para quem tem o que dizer e não tem uma grande instituição difusora por detrás. Aparecem links para uma quantidade de blogs, artigos em espanhol e em inglês, que eu jamais conseguiria alcançar de outra forma.

Redes de contatos - Mas isso é só a principal função do Twitter para mim. Há várias outras. Uma boa é gerenciamento de contatos. Já várias vezes me aproximei de pessoas interessantes pelo Twitter. Se ela costumar mandar e responder mensagens, a ideia é comentar alguma coisa que ela envia. Ela responde e, assim, vai-se criando uma ligação, ambos vão se acostumando com a cara um do outro, adquirem proximidade. Isso é mais difícil de se fazer por outros meios, porque o Twitter "achata" a variação de distâncias entre pessoas comuns e personalidades mais públicas - e até mesmo instituições (você pode fazer o mesmo com os tuiteiros de instituições).

O efeito "sensação de intimidade" - Detectei um curioso fenômeno nessa experiência de gerenciar contatos pelo Twitter. Ao seguir uma pessoa, mesmo que não interaja com ela, é comum que se desenvolva um vínculo, uma familiaridade mais íntima com ela. Talvez tenha algo a ver com o que o jornalista Clive Thompson chamou de "propriocepção social". Acontece que funciona no sentido contrário, também. Quem te segue pode desenvolver a mesma intimidade com relação a você. De modo que é possível usar esse efeito para construir redes de contatos. Literalmente, usar o Twitter para desenvolver percepção de intimidade com outras pessoas.

Manter lembranças de experiências -
Eu uso esse efeito sobre a intimidade também para manter vínculos com lugares e coisas. Certa vez fiz uma viagem à Argentina e não queria que, quando eu voltasse, toda aquela magia desaparecesse de repente, substituída pela volta ao batente nu e cru. Queria que não fosse apenas uma experiência passageira que some assim que o doce acaba. Então comecei a seguir o Twitter do jornal La Nación. Simplesmente lendo algumas coisas que apareciam. Funcionou! Aquele belo país manteve sua presença na superfície da minha mente e fico muito feliz com isso.


Os outros lados

Peremptório x matizado - Apesar de o Twitter ter a "cara" do tuiteiro, há problemas estruturais que são mais gerais. Um é que, com menagens tão pequenas, a tendência é privilegiar as opiniões peremptórias e dificultar a veiculação das visões matizadas, que requerem mais espaço. Em um outro post, em um dos últimos parágrafos, critiquei o Twitter em parte por causa disso. Para variar, o Twitter também tem dois lados. Pode servir para expandir sua mente, seu conhecimento, sua percepção sobre o mundo, ou para contribuir no sentido inteiramente oposto - ainda mais tendo em vista a fugacidade das mensagens (se não são lidas em minutos, perdem-se num imenso "arquivo morto" tuital; e sua rápida sucessão faz tendermos a esquecê-las). Como tudo, depende de como é usada.

Autocentrismo x interação - Outro problema é que as pessoas parecem tender a falar mais de si mesmas ou de espalhar sua própria opinião para o mundo do que participar de uma interação propriamente dita. Um exemplo ilustrativo foi uma amiga com centenas de seguidores que tuitou que iria fazer uma prova importante e ninguém lhe desejou boa prova. Bem, talvez eu esteja simplesmente exigindo do Twitter alguma coisa que ele não é.


Experiencial

Deve haver inúmeras funções possíveis das redes sociais, dependendo de quem a usa. Os egípcios da praça Tahrir que o digam. De qualquer forma, como disse o Clive Thompson, não dá para entender o Twitter apenas passando a vista em tuítes aleatórios de outras pessoas. Vai parecer fútil e sem sentido. O Twitter é experiencial. Para compreendê-lo, é preciso experimentá-lo.
P.S. 1 - Este texto é o desenvolvimento de um comentário que pus num post sobre o mesmo assunto do blog Lousa Digital, de Sônia Bertocchi.

P.2. 2 - Se quiserem uma visão mais aprofundada das redes sociais, tem este livro da Raquel Recuero: "Redes sociais na Internet", disponível para download.

3 comentários:

  1. Ao ler esse artigo vi que estava completamente errada quanto à idéia que fazia do Twitter. O texto está muito bem escrito e, principalmente, muito claro.

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  2. O twitter também se adapta às necessidades individuais por meio de serviços do próprio twitter e de terceiros - as ferramentas - que trazem novas funcionalidades. Há serviços de arquivamento de tweets (pessoais e de terceiros), pode-se aferir (agora menos) a tendência do assunto pelos TTs, agendamento de tweets, promoção de sorteios, compartilhamento de imagens e outros arquivos...

    []s,

    Roberto Takata

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  3. Bom você ter postado isso, Takata, pois eu praticamente nunca uso essas ferramentas e quase as desconheço. Também, quase não entro no site - só tuíto pelo Echofon. Tuitar pelo site é terrivel. Nem sei direito o que há. :)

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